Brasão da Cia. de Jesus 1º modelo pedagógico Brasil 1549 a 1759.

"O sucesso não é o final e o fracasso não é fatal: o que conta é a coragem para seguir em frente."

16 de fev. de 2009

Meio de suprimir e evitar os obstáculos

João Amós Comênio (1592-1670)
(Refletindo sobre educação)


Já se disse com razão: não há nada de mais inútil que o estudo e conhecimento de numerosas coisas que não podem ser utilizadas. E ainda: sábio é quem conhece as coisas úteis, não quem conhece muitas coisas. Poder-se-á orientar os trabalhos escolares para a utilidade e economizar o tempo no ensinamento das matérias se se evitar cuidadosamente de ensinar:
1. As coisas inúteis
2. As coisas alheias
3. Os detalhes insignificantes
É coisa útil a que não serve nem aos bons costumes nem à piedade e sem a qual podemos ser instruídos como, por exemplo, os nomes e a história dos ídolos e ritos pagãos, os diferentes passatempos dos poetas e cômicos, supérfluos e livres etc. Se se encontrar alguém desejoso de aprender essas coisas, através desses autores que menciono, tanto pior! Mas, não é de nenhuma utilidade estudá-los nas escolas onde se deve dar os fundamentos da sabedoria. Que tolice, escreveu Sêneca, aprender o supérfluo quando o tempo nos é avaramente medido. Não se deve aprender coisa alguma exclusivamente para a escola, mas para a vida, a fim de que os alunos não tenham de lançar ao vento nenhuma de suas aquisições ao sair da escola.
São alheias as coisas que não convêm nem a esta nem àquela inteligência, nem a um nem a outro.Há, com efeito, diversidade de natureza entre as ervas, árvores ou animais que faz com que cada um desses seres seja tratado de maneira característica. Não é diferente para o espírito humano.
É verdade, sim, é verdade que não faltam as inteligências felizes que tudo compreendem; mas não é menos verdade que também não faltam jovens que, diante de certo tipo de problema, se embaraçam e perdem o equilíbrio. Há quem seja águia nas ciências especulativas; porém, nas atividades práticas procedem como um asno diante de um lírio. Há quem tenha aptidão para diversos estudos, mas é idiota no que diz respeito ao conhecimento de música. Assim também acontece com outros se têm a infelicidade de serem obrigados a estudar matemática, poética, lógica etc.Que fazer nesses casos? Querer caçar à força num sítio que não atrai a caça é querer lutar contra a natureza, quer dizer, fazer esforços inúteis, porque o resultado será negativo ou sem relação com as penas impostas.
O educador é ministro e não mestre formador ou deformador da natureza; se perceber que um de seus alunos se aventura a um estudo contrário ao seu gosto natural, seu dever não é o de incitá-lo nisso; ele poderá estar certo de que esse aluno ganhará normalmente, num outro estudo, o que perde naquele. Com efeito, quebre-se ou corte-se um único ramo de uma árvore e todos os outros brotarão mais vigorosos porque toda a vitalidade se instalará neles.E se nenhum aluno for constrangido a estudar algo contra sua vontade, não haverá motivo algum para causa-lhe desgosto ou entorpecer-lhe a mente; cada um progredirá rapidamente nos estudos para os quais é inclinado por seus instintos com a permissão da Providência divina e depois, à medida que convier às suas capacidades, servirá utilmente à humanidade.

COMENIUS.JA. Pges Choises. Citado por:Rosa.M.G. de. A História da Educação através de textos. p155-7

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