Brasão da Cia. de Jesus 1º modelo pedagógico Brasil 1549 a 1759.

"O sucesso não é o final e o fracasso não é fatal: o que conta é a coragem para seguir em frente."

30 de mar. de 2009

Com a palavra o Dr. Simon - COTAS UNIV PÚBLICAS

Simon's Site
O projeto de cotas para as universidades federais Posted: 30 Mar 2009 01:38 AM PDT

Vou participar, no dia 1 de abril, de audiência pública da Comissão de Constituição, Justiça e Cidanania do Senado sobre o projeto de lei de cotas para as universidades federais.

Os pontos principais da apresentação que pretendo fazer são os seguintes:
  • A legislação proposta só beneficia um número pequeno de pessoas, prejudicando outras, e não altera o quadro de desigualdade social no ensino superior.
  • Na medida em que o ensino superior se amplia, a inclusão por renda, cor e escola de origem vem crescendo, sem precisar de políticas de cotas para isto.
  • Para haver uma política de inclusão efetiva, ela deveria se basear em critério de renda, que é socialmente o mais justo, e não de raça ou de escola do ensino médio, que discriminam contra brancos pobres e famílias pobres que investiram na educação média particular.
  • Forçar a inclusão, sem saber se o estudante vai concluir o curso, é uma política populista e demagógica.
  • Uma política adequada de inclusão deveria garantir que os estudantes terminem seus cursos, e dar recursos de manutenção a quem necessite.
  • Ao forçar a inclusão de estudantes sem qualificação prévia, a lei pode criar grandes problemas para os cursos superiores públicos de melhor qualidade.
  • Comparado com o projeto de cotas, o PROUNI é um sistema muito mais adequado e efetivo de inclusão, por incluir critérios de renda, desempenho, qualidade das instituições e não discriminar por raça, e por ser muito mais barato.

O foco quase exclusivo da atenção sobre política de cotas desvia a atenção sobre os problemas reais da educação brasileira. (GRIFO NOSSO)

Um powerpoint com os principais dados e estimativas que devo apresentar está disponível aqui. A propósito do tema, recebi um comentário da estudante Joyce Cristina de Morais que antecipa vários destes pontos, e que também estou incluindo [...} .

17 de mar. de 2009

HISTÓRIA E IDEIAS PEDAGÓGICAS DA COMPANHIA DE JESUS (OS JESUÍTAS)
(refletindo a história da educação)

O objetivo dos jesuítas ao fundar sua congregação, a Companhia de Jesus, faz jus ao espírito de seu fundador, que era militar convertido ao catolicismo. Inácio de Loyola era seu novo nome, tinha como princípio formar um exército de Cristo, formar bons soldados da igreja de Roma, capazes de combater na Europa a heresia e os rebeldes no resto do mundo, isto é, converter os pagãos.
Havia, portanto, determinação em atuar na educação desses bons soldados, a fim de purificá-los do mal.
Dessa forma, os alunos deveriam passar por uma reciclagem intelectual e científica para combater os vícios e os pecados, incluindo programas de aprofundamento das matérias escolares...
No início, a aristocracia não atribuía aos jesuítas o ensino da elite.
Eram chamados a propiciar a educação dos mais pobres, entendida como uma obra de caridade, particularmente nas colônias de Portugal.

Este ensino não seria um ensino para todos, era um ensino elitista ou aristocrático e ensinar os ignorantes a ler e escrever seria uma obra de caridade, portanto a preocupação básica no início da ordem era com aqueles que não detinham o poder econômico e político na Europa.

A história dos jesuítas é cercada de ambiguidades. Uma delas, talvez a mais marcante, é sua expulsão das colônias e centros de educação a nível mundial no século XVIII, em um momento onde a filosofia moderna inicia sua radical transformação ideológica, particularmente no campo pedagógico.
A ambiguidade consiste em considerar, por um lado, que a principal razão da expulsão dos jesuítas do campo educacional, pela igreja, foi fruto da insubordinação à autoridade papal, graças a sua inovação em querer aplicar idéias modernas aos conteúdos humanísticos, tendo da filosofia tradicional, tendo inclusive, Descartes como um de seus alunos, como se estivesse violando os dogmas católicos. Por outro lado, há a acusação política do poder aliado da Igreja, especialmente do Marquês de Pombal, em Portugal, à Ordem, por propagar os ideais pedagógicos exclusivamente do catolicismo tradicional, em detrimento de uma educação democrática e pluralista gestada pela filosofia moderna.
Pode-se, então, indagar: qual foi realmente o papel da educação católica, em especial dos jesuítas, no processo de transição da educação tradicional para a educação e as ciências modernas?

Recorreremos à história para tentar responder à questão. Neste sentido, é importante levantar alguns dados históricos da Companhia de Jesus, que nos ajudam a entender os objetivos educacionais e a filosofia de educação da Igreja católica defendida por várias Ordens, sem dúvida, a mais influente de todas no que tange ao projeto educacional.
A Companhia de Jesus foi fundada em 1534, na Espanha, por Inácio de Loyola, ex-combatente de guerra nascido em 1491, na cidade de Loyola, na Espanha. Foi aprovada pelo Papa Paulo III, em 1540. Logo no início da Companhia, o rei D. João III, de Portugal - um dos maiores impérios Colonizadores do Ocidente - chamou os jesuítas para ocupar-se da educação daquele reino. O diretor do Colégio de Santa Bárbara em Paris indicara ao rei a existência de um novo grupo de clérigos que considerava aptos para converter toda a Índia. Santo. Inácio de Loyola acedeu ao convite do rei português e enviou para Portugal, em 1540, dois dos seus primeiros educadores: o navarro Francisco Xavier e o português Simão Rodrigues. O primeiro partiu no ano seguinte para a Índia, enquanto o segundo ficou na Europa, lançando as bases da educação na Província de Portugal.
O crescimento da Companhia de Jesus em Portugal foi rápido, sendo responsável pelo surgimento de vários colégios e universidades. Em 1542, foi fundado, em Coimbra, um colégio interno (só para seminaristas), para formação dos membros mais novos da Ordem. O primeiro colégio em que os jesuítas ministraram aulas públicas, não só para vocacionados ao sacerdócio, foi o de Santo Antão, em Lisboa, inaugurado em 1553. Em 1559, foi fundada a Universidade de Évora e, progressivamente, a atividade pedagógica dos jesuítas foi se estendendo às principais cidades do país, como a de Braga (1560), a de Bragança (1561), a do Porto (1630), entre outras. Os jesuítas chegaram a dirigir trinta estabelecimentos de ensino, formando a única rede escolar orgânica e estável do país. O ensino era gratuito e aberto a todas as classes sociais; a Companhia só começava uma nova escola quando houvesse uma dotação ou fundação que assegurasse os meios necessários para o seu funcionamento.

Em 1542, Francisco Xavier desembarcou em Goa depois de percorrer vastas regiões da Índia, chegando ao Japão em 1549. Após sua morte, em 1552, a evangelização do Oriente continuou, a cargo de sucessivas levas de missionários que diversificaram as regiões alcançadas, começando em Macau (1565) até Laos (1642). Na África, os jesuítas chegaram no Congo, em 1547, fixando-se ao longo dos anos em diversas outras cidades. Em 1604, iniciaram a missão de Cabo Verde, e depois à Guiné e Serra Leoa. A primeira expedição ao Brasil, foi em 1549.

A todas as regiões, os jesuítas levaram a sua prática pedagógica. Principalmente no Brasil, fundaram uma rede de colégios, seminários e escolas primárias e confessionais, com ensino gratuito sustentado por explorações agro pecuárias e outras propriedades legadas para patrimônio dos centros de ensino. O principal expoente jesuíta no Brasil foi José de Anchieta.
A partir de 1756 foi nomeado pelo rei D. José I, para Secretário de Estado dos Negócios do Reino, então o mais alto cargo da estrutura governamental, Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal. Suas sucessivas medidas passam a reduzir gradativamente o poder de ação dos jesuítas em Portugal e nos domínios ultramarinos, sobretudo no Brasil. Em 1759, o domínio jesuítico na educação foi interrompido, principalmente por decisão de Pombal, que se empenhou em decretar oficialmente a expulsão dos jesuítas de todos os territórios portugueses. As causas desta decisão parecem ser de natureza político-ideológica e política, graças às filosofias educacionais da Modernidade que tinham em Pombal um fiel defensor.
A Companhia de Jesus era um obstáculo aos ideais e ao projeto político moderno, que se pretendia implementar na época, mais centralizado no Estado. Era o sistema absolutista, iluminado, que Pombal queria impor, indiferente à resistência das forças sociais que rechaçavam a Modernidade.

Dominando o sistema de ensino em Portugal e no Ultramar, vinculados por uma ligação especial a Roma e possuidores de um grande influxo cultural, os jesuítas formavam um corpo facilmente visto como ameaça para um sistema absolutista que ambicionava controlar todos os aspectos da vida social, incluindo uma Igreja mais submetida ao Estado. Se a esta moldura ideológica, juntarmos a apetência pelo patrimônio considerável de posse dos jesuítas, teremos reunidas as condições para o desencadear da perseguição.
A campanha antijesuítica levou à formulação de uma série de acusações publicadas em toda a Europa. A luta de Pombal contra a Companhia de Jesus não se limitou aos domínios da Coroa portuguesa. Prolongou-se, em conjunto com as cortes bourbônicas, até alcançar o fim pretendido: a extinção da Companhia de Jesus, em 21 de Julho de 1773. Por um breve (decreto), o Papa Clemente XIV decreta ou que a Companhia de Jesus deveria ser dissolvida em todo o mundo. A Prússia e a Rússia Branca recusaram a ordem papal, tornando-se os principais focos de exílio dos jesuítas.
Entre as principais acusações feitas aos jesuítas, encontravam-se a resistência dos mesmos à aplicação do Tratado de Madri, celebrado entre Portugal e Espanha para a delimitação de fronteiras na América do Sul; a oposição, no Brasil setentrional, às leis que regulavam a administração das aldeias de índios; o exercício de atividades comerciais proibidas a religiosos; a decadência dos jesuítas portugueses; a difamação do rei no estrangeiro; e a participação, pelo menos moral no atentado contra D. José e na revolta popular do Porto ocorrida em 1757. Apesar deste acervo de acusações, o único jesuíta a ser objeto de julgamento formal foi Gabriel Malagrida, italiano, acusado de heresia e condenado à morte, em 1761.

A restauração ou volta dos jesuítas começa inicia-se em 7 de agosto de 1814, após as Revoluções modernas, com a autorização do Papa Pio VII, fundamentado nos benefícios de sua experiência educativa. Embora, posteriormente, tornassem a ocorrer outras perseguições e expulsões dos inacianos de vários países do mundo, ao longo do século XIX, devido à resistência da Igreja em acatar as mudanças das revoluções modernas, a volta dos jesuítas proporciona o reinicio das suas atividades educativas, ainda que sem a originalidade da Companhia antiga: os colégios passam aos poucos a ser confessionais e privados e os religiosos inserem-se na missão com trabalhadores de fábricas, embora com métodos da época, hoje considerados paternalistas (círculos de trabalhadores, obras sociais, editoras, escolas populares etc.). A Companhia continua o esforço de pesquisa e publicação em todos os campos das ciências, artes e letras, e participa da nova atividade missionária da Igreja e educando as elites tradicionais com seus colégios e faculdades privadas. Entre os colégios destacam-se os de Campolide e São Fidel, em Portugal. Além de importantes como estabelecimentos de ensino, tornaram-se também centros de intensa atividade científica, através de inúmeras publicações. Em São Fidel, foi fundada em 1902 a revista Brotéria, assim denominada em homenagem ao naturalista português Avelar Brotero. Eram os professores dos colégios que dirigiam a revista, publicando nas suas páginas artigos de investigação, com destaque para as áreas de botânica e zoologia.

Na realidade, a atuação dos jesuítas no século passado estava diretamente relacionada às conjunturas políticas, alterando-se de acordo, com as oscilações dos governos - conservadores ou liberais. A maioria dos católicos identificava sua fé com o antigo regime (monárquico) e muitos jesuítas participavam dessa mentalidade. Quando os governos eram conservadores, os jesuítas eram chamados e exaltados; quando os liberais subiam ao poder, eles eram novamente perseguidos e exilados.

1. Os jesuítas e a educação
A Companhia de Jesus, portanto, se institui na história com uma missão religiosa. A ação na educação é consequência de circunstâncias sociais e políticas do século XVI, época caracterizada por divisão e conflito dentro da Igreja. Sacudida pela Reforma Protestante, ocorrida no século anterior, tomou consciência do abandono espiritual em que se encontrava o povo cristão. Tal constatação levou a Companhia a dar uma resposta aos desafios proporcionados pela Reforma, atuando em três campos, a saber: o primeiro - o serviço ao povo, na defesa e propagação da fé católica. Nesse contexto, os primeiros jesuítas dedicaram-se aos ministérios sacerdotais tradicionais (pregação, confissões, catequese...), junto com novas iniciativas e estratégias pastorais: os Exercícios Espirituais, as Missões Populares, Associações de Leigos, e o uso do teatro na pregação, liturgia e catequese. Inicialmente a educação não era o principal objetivo.
O segundo foi a propagação dos ideais pedagógicos católicos nos territórios desconhecidos. Aproveitando o esforço expansionista dos grandes impérios da época (Espanha e Portugal), os jesuítas se fazem presentes, desde a primeira hora, nos novos mundos que se abrem à atividade missionária.
O terceiro foi a atividade educativa católica e científica da juventude. Imprevista ao nascer a Companhia, essa atividade tornou-se logo a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da antiga Companhia favoreceu a expansão dos colégios. A ação pedagógica muda a idéia original de seu fundador. Esta atuação é que nos interessa abordar. A Companhia de Jesus, aliada aos colonizadores, que, pela expansão das fronteiras geográficas, com a descoberta da América e abertura de novas rotas comerciais na Ásia, descentralizam o saber da Europa. Estes fatos, somados com a pedagogia jesuíta, possibilitaram uma revolução no campo das ciências e das letras.
A Companhia de Jesus, passa a ter como tarefa a educação da juventude, pois para eles os adultos já tinham as almas perturbadas, enquanto os jovens poderiam converter-se ao cristianismo. Foi assim que se espalharam pelo mundo, colocando-se a serviço da educação, formando escolas e trazendo para o interior da Igreja Católica novas vocações e sacerdotes das colônias européias de influência católica.
2. Os espaços pedagógicos da Companhia de Jesus
A Reforma Protestante do século XV colaborou, intensamente, para que a Igreja Católica, com receio de perder seu terreno de influência sobre as almas para suas opositoras, as igrejas protestantes, luterana na Alemanha e calvinista na Inglaterra, passasse a investir massivamente na evangelização - cujo instrumento mais poderoso era, sem sombra de dúvida, a educação. Com efeito, o enorme investimento católico no ideal educativo deveu-se não só à cumplicidade que aliava a igreja aos interesses coloniais dos impérios monárquicos, em especial os impérios espanhol e português, através de um projeto de educação que consistia em formar o homem, emancipando-o por meio da razão e da cultura; mas também decorreu, e talvez predominantemente, de um ideal religioso de salvação das almas, especialmente das populações autóctones das colônias européias. É neste contexto que se dá o surgimento dos jesuítas, em que a educação tinha o objetivo de prestar estes serviços à Igreja. A salvação ou educação das almas deve ser entendida, aqui, como o aprendizado religioso dos alunos para sua conversão ao cristianismo católico.
Suas atividades organizavam-se através de três tipos básicos de estabelecimentos. Os locais para a educação, para a catequese e para os retiros; assim
...para a educação, as casas, residências, colégios e seminários; para a catequese, as aldeias missioneiras; para tratamento e retiro, as casas de recuperação ou quintas de repouso... e os hospitais; e para a preparação religiosa, os noviciados, de onde saíram as levas de soldados para seus exércitos.

Os estabelecimentos inacianos recebiam subvenções e concessões da Coroa e esmolas do povo, por isso, em pouco tempo criaram uma sólida base econômica para seu sustento, com fazendas, engenhos e currais. Para atender às suas necessidades, os jesuítas tinham sempre em seus quadros uma grande quantidade de profissionais, mestres-de-obras, arquitetos, engenheiros, pedreiros, entalhadores, oleiros, ferreiros, ourives, marceneiros etc. E dispunham também de grandes escritores, músicos, pintores e escultores.
Onde quer que fossem, os inacianos ministravam sempre aulas, de catequese, de ler, de escrever e de gramática, em locais que chamavam de casas, pois colégios eram os estabelecimentos que tinham vida econômica própria e do qual dependiam outros, situados nas proximidades.
Nas colônias onde atuavam, não ficavam apenas nas cidades ou vilas principais, embrenhando-se pelos sertões e matas em busca dos índios. Estes eram então reunidos em aldeias de três tipos: as dos Colégios, as de El-Rei e as de Repartição, as que forneciam índios para a própria Companhia, para o rei e para particulares, respectivamente. Havia também as Missões, ou grandes aldeamentos, situadas em terras mais distantes, nos sertões, e nas selvas.

Do ponto de vista arquitetônico, as principais cidades coloniais foram estabelecidas sob o signo de três poderes: o civil, o militar e o religioso. O primeiro, tinha suas representações nos Palácios de Governo, Casas de Câmara e Cadeias; o militar, nas fortificações; o religioso, com suas igrejas, conventos, mosteiros e colégios. No Brasil, por exemplo, ocupou o lugar de maior destaque e suas obras, entre todas, são as mais significativas nos núcleos primitivos das cidades, principalmente no contexto urbano de Salvador.
Os Colégios da Companhia transmitiam aos educandos uma cultura humanística de caráter acentuadamente retórico, atendendo aos interesses da Igreja e às exigências do patriarcado. Assim, os mais importantes intelectuais da Colônia estudaram nestes colégios.

3. O método pedagógico jesuítico - Ratio studiorum
A morte de Inácio, em 31 de julho de 1556, suscita questionamentos com relação à atividade didática dos jesuítas e pouco tempo depois os superiores da Ordem elaboram um documento, publicado em sua última versão em 1599, baseado nas Regras do Colégio Romano, ao qual intitulam Ratio Studiorum - Plano de Estudos, que consta de um
...currículo básico e princípios pedagógicos gerais comuns a todos os colégios da Companhia, é um manual para ajudar os professores e dirigentes na marcha diária dos Colégios. ...uma série de regras ou diretrizes práticas que tratam de assuntos como a direção dos colégios, a formação e distribuição dos professores.

O Ratio Studiorum dos jesuítas, introduzindo e consolidando um "sistema" integrado para seus colégios, criou o primeiro sistema educacional unificado que o mundo conheceu.
Neste pequeno esboço do método jesuítico de educação, destacamos alguns elementos que nos ajudam a entender tal pedagogia. Os protestantes, após a reforma, como já mencionamos, viam a importância da escola e constituíram um método denominado Rationes Studiorum. Seus trabalhos demonstravam que o humanismo poderia ser perfeitamente compatível com um cristianismo militante. Este fato exerce influência nos jesuítas, que, por sua vez, criam assim o seu método para o professor católico, distinguindo-se do protestantismo pelo caráter seletivo obrigatório, em todos os pormenores de horários, programas etc.

A experiência pedagógica dos Jesuítas sintetiza-se num conjunto de normas e estratégias, chamado "Ratio Studiorum", que visava à formação integral do homem cristão, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo.

Aplicam de forma centralizada o método à escola com uma irradiação impressionante que o procedimento ficou conhecido como "autoritário", sendo a autoridade fundada num conhecimento aprofundado da alma humana e especialmente da psicologia da infância e da adolescência. Porém, segundo o Pe. Leonel Franca, esta autoridade é compensada pela ponderação que respeita o progresso do conhecimento e não violenta o ritmo da evolução humana.
Como vimos na introdução, Ratio significa ordem, Studiorum estudos, a ordem dos estudos, ou método de ensino. Suas características principais eram a cooperação hierárquica das pessoas do colégio em todos os níveis; o conhecimento da alma infantil e a compreensão das relações que devem-se estabelecer entre professor e aluno, primeiro como guia, conselheiro ou treinador, mais do que o magister da palavra definitiva. O Ratio indicava:
A utilização dos sentimentos de amor-próprio ou emulação - competições educativas entre os alunos. Tais competições abrangiam o uso dos exercícios coletivos, a divisão das classes em campos opostos, como, por exemplo, entre romanos e cartagineses; no sistema de notas, de recompensa e de distribuição de prêmios ou medalhas. Estas competições (emulações) estimulavam os estudos, como nos diz o Pe. Leonel Franca em sua obra sobre o Ratio:

...a vida é uma concorrência contínua. Desde os prêmios científicos e louros literários até as taças de campeonatos desportivos, desde as condecorações militares até as medalhas das exposições industriais ou agrícolas, todas as atividades do homem que vive em sociedade sentem-lhe o aguilhão poderoso, impulsionador de iniciativas fecundas e benfazejas. A emulação foi e será sempre um dos estímulos mais ativos ao aperfeiçoamento e progresso do homem. Os jesuítas o compreenderam e, com rara felicidade, aplicaram à formação da juventude.

A Orientação aos professores. Cada colégio tinha a sua academia docente, hierarquicamente organizada, onde os professores eram orientados pelos padres, sendo os dirigentes eleitos pelos próprios membros.
Que nos conteúdos fossem enfocadas primeiro as letras latinas e gregas, depois as ciências. Imitação dos antigos praelectio (prae-legere), que significa explicação dos autores ou pré-leitura. O texto do autor deve falar com lábios de carne, transformando o abstrato em concreto, o ditado é ensino morto, o aluno deve ser ouvinte atento do mestre...

A utilização do teatro escolar como recurso pedagógico, a ponta de lança da educação jesuítica, não era jogo nem distração; nele nenhum personagem podia vestir-se de mulher e o seu texto deveria ser interpretado na língua latina, em qualquer parte do mundo. Neste aspecto os franceses violaram a norma, utilizando sua língua pátria na educação. Sobre o teatro dos jesuítas usado como método pedagógico, Francis Bacon, que também exerceu grande influência em Locke, nos diz:
As declamações teatrais de alunos dos jesuítas fortalecem a memória, educam a vós, apuram a dicção, aprimoram os gestos e as atitudes, inspiram a confiança e o domínio de si, habituam os jovens a enfrentar o olhar das assembléias.

Quanto ao horário, que fossem dadas 5 horas de aula por dia, sendo duas horas e meia de manhã e duas e meia à tarde. Que a organização da aula deveria estruturar-se como uma pequena sociedade. A pedagogia adquiria conceito de ativa, onde cada estudante tinha uma função a desempenhar; sobre isso, o texto do Pe. Leonel Franca resume todo o espírito do método e de suas respectivas regras, evocando a unidade de professor, unidade de método, unidade de matéria, unidade de autor da mesma matéria.

Unidade de direção, corpo e professores animados nos mesmos princípios, formados na mesma escola, visando aos mesmos fins, empregando os mesmos meios. Eis a unidade e concentração completa e a forma do ratio studiorum.

A preleção como o centro da didática, significando uma explicação antecipada do que o aluno deveria estudar ou uma espécie de programa de estudos.
O ensino religioso como o centro da formação do método. Para eles o homem não é só um animal cujo organismo deve-se desenvolver sadiamente, nem a inteligência, por si só, torna o homem feliz. O ser humano para os jesuítas era um ser com destinos sobrenaturais; daí, uma educação que ignorasse este aspecto não seria uma educação humana. O ensino religioso era obrigatório.
É importante lembrar que a educação do século XVI era totalmente voltada para a formação de uma civilização moldada nos padrões católicos europeus; os jesuítas tinham como base a catequese dentro da escola com os princípios religiosos. Não havia possibilidade de escolha, as disciplinas religiosas eram obrigatórias e com o mesmo peso das outras. O método tinha como orientação filosófica a teoria de Aristóteles e Santo Tomas de Aquino (1227-1274).
A filosofia básica era a escolástica teocêntrica, com influência do tomismo, onde a natureza e o homem estavam subordinados aos princípios do Deus de origem judaico-cristã. Assim o Ratio definia de forma clara que em questões de alguma importância não se afaste de Aristóteles... De Santo Tomas, fale sempre...
O princípio norteador do Ratio era global, não havia ainda os ideais pedagógicos dos nacionalismos quando o método foi criado; pretendia uma consciência de homem cristão não apenas nacional, mas universal. No Ratio, a metodologia era entendida como os processos didáticos adotados para a transmissão de conhecimentos, a fim de unificar o sistema de ensino da Ordem. Mesmo assim, não houve um padrão único universal para o trabalho de formação das almas, pois muita coisa teve que se adaptar às circunstâncias culturais de cada povo.
Por fim, ressaltamos que toda a educação dos jesuítas objetivava a educação das almas, entendida como formação do homem para uma vida cristã. Como já visto, este era o princípio básico de toda a elaboração pedagógica expressa em seu método.
Mesmo com tal objetivo doutrinário, o método Ratio Studiorum foi elogiado por René Descartes - ex-aluno dos jesuítas, embora discordando dos conteúdos, já que este autor é considerado um dos precursores das ciências modernas e de teorias que se opunham radicalmente à idéia da Igreja católica sobre as ciências.
O confronto desta concepção, expressa no Ratio, com as ciências modernas possivelmente irá iluminar a evolução do pensamento filosófico da Modernidade. O surgimento do antropocentrismo - a salvação do homem versus salvação da alma - marcará o Iluminismo que, confrontando-se com a concepção teocêntrica que situava a absoluta soberania da natureza e de Deus, irá subordiná-la à inteligência ou à razão expressas nas ciências modernas.
Neste sentido, as palavras de Pedro Maia tentam sintetizar a relação deste método com os conflitos da Modernidade com a seguinte afirmação:

O Ratio studiorum foi formulado sob influência da época conhecida como Renascença. O homem da Renascença não é o homem do século XX. Mas os problemas subjacentes da educação são os mesmos: o homem é uma constante e suas faculdades não variam com os séculos... Do século XV à Revolução Francesa, os homens eram devidamente preparados para a vida se estavam bem fundados nas letras, na política e na filosofia. Desde 1800, entretanto, as novas forças de uma verdadeira difusão mundial das ciências e, mais recentemente, dos problemas sociais, exigem uma preparação para além da base lingüística e filosófica.

É importante destacar, aqui, as descobertas científicas de J. Kepler (1571-1638) e Galileu Galilei (1564-1642), que comprovaram que o homem poderia explicar fenômenos até então considerados sagrados, dando início ao poder do homem e sua emancipação para pensar e observar a natureza. O surgimento de novas diretrizes filosóficas, com Descartes, Newton, Locke, Rousseau etc., juntamente com a valorização de novos autores e suas línguas vernáculas, em detrimento dos autores clássicos, vieram conturbar o sistema educacional dos jesuítas e, já no início do século XVIII, começam a decair o prestígio e a aceitação quase mundial da Companhia de Jesus.
A secularização do pensamento, apoiada na razão, assim como a moderna concepção do Estado, que negava a intervenção papal e da Igreja nos assuntos temporais, valorizando a laicização, foram processos que encontraram forte resistência entre os jesuítas, defensores contumazes do poder de tutela da Igreja sobre as atividades do Estado.
Como vimos, a Companhia de Jesus nasceu em meio a uma situação de conflito. Seu fundador queria que fosse um grupo móvel, disponível para acudir as almas nos lugares em que a necessidade fosse maior. Mesmo quando os conflitos entre católicos e protestantes se amenizaram, podemos identificar na história que o surgimento da nova filosofia moderna afetou profundamente os ideais pedagógicos desta instituição.
O surgimento das ciências naturais influencia posteriormente os jesuítas à adaptação do método Ratio Studiorum aos ideais modernos. O período do renascimento da companhia no século XIX já se caracteriza como uma nova filosofia, profundamente influenciada pelos ideais das Luzes, que se estendem até nossos dias, onde o Serviço da fé e promoção da justiça é a expressão mais debatida pelos educadores da Companhia de Jesus que tentam adaptar sua pedagogia aos ideais da modernidade.
4. A educação jesuítica e a idéia de educação para todos
Outro elemento importante que podemos anotar é a relação dos jesuítas com o surgimento da escola pública (escola para todos) no século XVIII. É curioso afirmar, mas parece ser possível pensar que o surgimento da educação para todos tem antecedentes importantes na experiência católica jesuíta. Pode-se então perguntar até que ponto a educação das almas, tal como caracterizamos a finalidade monolítica que perseguia o ensino religioso (em nome da qual todos os demais valores da educação eram excluídos), exerce influência sobre a formação da escola pública? Que conceitos de vida essa educação ajudou a enraizar na formação das populações, particularmente da Europa, e no imaginário religioso? Que contribuições deram com sua escola? Que influências o método de ensino - o Ratio Studiorum - exerceu, e ainda exerce, sobre as relações que as sociedades mantêm com a educação?
A partir dessas indagações, é possível pensar vários aspectos para um estudo destas idéias pedagógicas e as influências da escola católica do período medieval na formação da escola pública dos séculos XVII e XVIII.
Em síntese, dois elementos podem ser citados nesta análise: a educação dos jesuítas aparece como uma corrente de pensamento da escola católica, e sua prática pedagógica possivelmente influenciou os fatos que antecederam o nascimento da escola pública. O outro é a análise das representações, conceitos e noções que fundam a instituição de comportamentos, do método, das finalidades proclamadas de uma escola para salvação das almas, com suas características e contradições.
Para o entendimento destas duas idéias é preciso dizer que Martinho Lutero (1483 -1546), um dos reformadores da igreja católica em 1480, foi um dos primeiros a criar o conceito de educação para todos. Na visão do reformador, que combatia o predomínio do catolicismo tridentino sobre a educação, não se podia mais admitir o controle e a influência do catolicismo sobre as escolas. Para ele a educação tem que ser para todos e popular. É neste sentido que a afirmação de Lutero nos permite supor que havia a idéia e uma luta pela concretização de uma instituição pública não confessional, destinada a prover uma educação abrangente para todos os membros da sociedade. Esta idéia nada tem de atual, remontando a um passado bastante distante e desconhecido. Neste sentido, Gadotti chama a atenção para o fato de que a questão da intervenção do Estado na educação já vinha sendo debatida desde Lutero.
Destarte, não seria demais ousado pensar que, historicamente, o conflito que, no mundo ocidental, divide católicos e protestantes na disputa pela formação ou educação das almas se constitui, especificamente, num eficaz instrumento de promoção da idéia, tanto quanto da realidade, de uma escola entendida como um serviço popular ao público e ao alcance de todos, destituído de influência religiosa e doutrinária, isso já no século XV, e, portanto, muito antes dos teóricos iluministas.
Na América e na África, como se sabe, durante muito tempo, a concepção católica consagrou a imagem do autóctone - do índio, como a do animal que só por meio do batismo adquiria direito a uma alma. Conseqüentemente, se a maior finalidade da ação humana podia ser resumida na participação na obra da salvação, nada haveria de mais grandioso do que o trabalho de catequese através do qual o índio, tornando-se cristão, ganhava, mais do que a alma, uma alma batizada - e, portanto, aberta à redenção. E mais, a alma cristã projetava sobre a vida terrena a sombra de uma nova dignidade: incorporação à sociedade, status civil anteriormente negado ao habitante da colônia.
Tal era o sentido que podia adquirir a tarefa de salvação das almas, pois a missão que coube aos jesuítas deve ser considerada como um supremo reconhecimento concedido à Ordem pelo Papa, reservando para estes religiosos, no início do século XVI, o privilégio de educar os homens e de salvar e acompanhar suas almas. Nesta missão, eminentemente espiritual, ganhava relevo tanto o cuidado com os civilizados que, afastando-se do olhar zeloso da igreja, vinham desterrar-se nas novas terras, quanto o projeto de ganhar para a fé os silvícolas, nativos das terras agora dominadas e invadidas.
No caso do Brasil, uma afirmação dificilmente poderá ser omitida: foram os jesuítas que efetivamente se encarregaram, nos dois primeiros séculos de colonização brasileira, da formação, tanto dos educadores como dos educandos. Ressalte-se, porém, o caráter eminentemente público que então revestia esta função, da qual se incumbia a instituição religiosa. Longe do caráter privado que hoje caracteriza a escola particular, católica ou protestante, neste momento, o trabalho religioso podia se confundir, e de fato o fazia, com o interesse político do Estado. No período áureo da Cristandade, Igreja e Estado trabalhavam juntos e indissociáveis pela realização de interesses que uniam o temporal ao religioso, conformando um mesmo poder político sobre os homens do mundo civilizado e das novas terras. Império e igreja eram uma só realidade que, por sua vez, determinavam a estrutura política e social da época.
A análise do conflito que opõe o Iluminismo à prática jesuítica - percurso que poderia ser definido como o deslocamento da noção de salvação das almas em benefício de um ideal de salvação do homem -, nas relações de oposição entre estes dois termos, tanto quanto nas influências que o primeiro exerce sobre o segundo, pretende se fixar em uma concepção dualista da educação, às raízes longínquas das concepções sobre a escola pública.
Poderíamos dizer na linguagem moderna que a educação neste período era "terceirizada", e que os educadores, ao mesmo tempo que ensinavam, instituíam uma nova cultura e preparavam as populações para serem dominadas pelo poder dos impérios europeus. Neste sentido, diante da fusão dessas duas instituições, uma tirando proveito sobre a outra, é que a educação e o método jesuítico de educar são precursores na formação da escola pública, tornando-se assim indispensável seu estudo. O que é fundamental entender aqui é que a escola dos jesuítas estava totalmente a serviço do poder, pois era a única que existia, tanto para servir a elite como para servir os índios e colonos. A idéia de público aqui significa ensino para todos:

...foram os jesuítas que criaram, e, por dois séculos, quase exclusivamente mantiveram o ensino público no Brasil...os jesuítas a cada colégio, a cada casa, a cada missão juntaram uma escola, assentando os fundamentos da instrução pública, da cultura, da civilização...

Os jesuítas na educação, como vimos anteriormente, tinham um método de ensino que não foi criado a partir da realidade de cada povo, mas importado a partir de conceitos e de uma filosofia orientada pelos valores filosóficos da Igreja católica, ou seja, o Ratio Studiorum. Este elemento era o elo de unidade da pedagogia e da doutrina em qualquer parte do mundo.


Web Site:
http://www.geocities.com/Athens/Ithaca/9565/tese/Jesuitas.html
17/03/2009 as 16:57 h

13 de mar. de 2009

Educação no Brasil
(Refletindo a história da educação)

A história da educação no Brasil começa com a chegada dos primeiros jesuítas.
Durante todo o período Brasil-Colonia, foram eles os primeiros responsáveis pela educação. Dedicavam-se à transmissão da fé católica e da cultura ocidental. Do litoral partiram para as aldeias indígenas, ensinando os filhos dos índios e dos colonos a ler, a escrever, a contar e a falar o idioma português. Foram eles que fundaram os primeiros colégios e conventos. Em 1570 já haviam criado escolas em Pernambuco, São Paulo, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Através das crianças influíam nos adultos e, aos poucos, a cultura indígena foi modificada pelas ideias jesuítas.
Os jesuítas foram, no Brasil, os instituidores do ensino, do teatro, da arquitetura e da medicina. foram, também, preservadores da língua indígena e responsáveis pelo registro de numerosos fatos da nossa história. No ano de 1759, quando já possuíam dezessete instituições culturais, os jesuítas foram expulsos do Brasil por ordem do Marquês de Pombal. Nesse mesmo século XVIII, Portugal fundou no Brasil as primeiras escolas militares. Como no Brasil ainda não havia cursos superiores, os brasileiros completavam seus estudos na Europa.
Com a vinda da família Real, que ocorreu em 1808, a educação recebeu um grande impulso. Em consequência desse impulso, foram fundadas ou criadas instituições de grande significado para a educação e a cultura: a Imprensa Régia; a Biblioteca Nacional; o Museu Nacional; escolas superiores: Naval, Militar, de Medicina, de Economia, de Agricultura e outras; a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Nessa época, como fruto do progresso educacional que o Brasil experimentava, a nossa cultura evoluiu também no sentido pragmático, ao lado da tradição do ensino excessivamente academico.
BORTOLI. Lurdes de. Educação Moral e Cívica. Editora Nacional São Paulo -1979 p.174-5

9 de mar. de 2009

Platão fala da educação
(refletindo a historia da educação)

A partir da tenra infância e durante toda a vida, os pais educam e admoestam seus meninos. Logo que acriança começa a entender, nutriz, mãe, pedagogo e o próprio pai fazem de tudo para que ela se torne o quanto mais possível ótima. Perante qualquer coisa que ela faça ou diga, a ensinam mostrando-lhe: este é justo e aquele é injusto, este é bonito e aquele, feio, este é santo e aquele, ímpio, isto se deve fazer e aquilo é proibido; se ela obedece de boa mente, tudo bem;se não obedece, é endireitada com ameaças e pancadas, como se fosse um lenho curvo e retorcido. Em seguida, entregam-na aos mestres, recomendando-lhes que cuidem do bom comportamento da criança mais do que do ensino das letras e cítara. E disto cuidam especialmente os mestres.
E quando as crianças já começam entender as letras, isto é, começam a entender, primeiro, as letras faladas e, em seguida, as letras escritas, são colocadas na frente, cobre um assento, para que leiam os versos dos melhores poetas, que contém muitos ensinamentos, muitas histórias educativas, solenes elogios e públicos encômios de homens virtuosos da antiguidade, e as obrigam a decorá-las para que a criança, por emulação, tente imitá-los, visando em tudo se tornar como eles.
Os mestres de cítara, por sua vez, no que lhes compete, cuidam da temperança e se preocupam para que os jovens não pratiquem nada de mal. E quando já sabem tocar a cítara, ensinam-lhes os versos de bons poetas melódicos, adaptando tais cantos à música da cítara e se esforçando por imprimir no espírito dos jovens os ritmos e as harmonias, para que se tornem mais mansos e, tornando-s mais eurrítmicos e harmoniosos, sejam valentes no falar e no agir, porque a inteira vida humana precisa de ritmo e harmonia.
As crianças são enviadas também ao mestre da ginástica, para que, sendo seus corpos mais fortes, obedeçam melhor, como à voz dos remadores, às boas disposições da inteligência e não se tornem fatalmente covardes, quer em guerra,quer em outras ações, pela fraqueza do seu corpo.
É claro que esta educação é possível especialmente aos que têm maiores possibilidades, isto é, aos mais ricos, cujos filhos começam a frequentar os mestres em idade mais nova do que os outros e os deixam mais tarde.
Após terem deixado os mestres, a cidade os abriga a aprender as leis e a viver segundo seu modelo, para que não se comportem segundo seus caprichos,(...) Tamanha é, portanto, a preocupação dos particulares e do Estado pela virtude.(Pitágoras, 325 c326e.)
Citado por: MANACORDA, M.A. História da educação,da Antiguidade aos nossos dias. São Paulo, Cortez.1989. p.52-3